Por FERNANDO LICHTI BARROS
Um diretor da gravadora Chantecler propôs ao pianista Mario Albanese que apresentasse uma alternativa à bossa-nova. Não era pouca coisa a ser pensada em 1963, ano da gravação de Garota de Ipanema, feita por Pery Ribeiro.
Um diretor da gravadora Chantecler propôs ao pianista Mario Albanese que apresentasse uma alternativa à bossa-nova. Não era pouca coisa a ser pensada em 1963, ano da gravação de Garota de Ipanema, feita por Pery Ribeiro.
Formado no Conservatório Dramático Musical de São Paulo, Mario saiu a refletir sobre música, sobre a vida, filosofia, cultura, dualidade, yin, yang, o pensamento voando até à China, às cinco virtudes de que falava Confúcio, à escala pentatônica, a uma cantiga de roda argentina, à polirritmia cantada por escravos em fuga, aos cinco dedos de cada mão.
Dois anos depois, na TV Record, encontrou-se com o maestro Cyro Pereira. Haviam sido apresentados na década de 50 pelo violonista Garoto, na Rua Quintino Bocaiúva.
- O que cê tá fazendo? - perguntou Cyro.
Após a resposta dada por Mario - “umas pesquisas sobre ritmos” –, eles passaram a ter longas conversaram sobre ritmo em cinco tempos, quase uma provocação frente ao descontraído balanço da bossa.
Pediram ajuda ao baixista Pala e ao baterista Xororó para uma primeira experiência: os dois tocando juntos de um lado de um tapume, do outro Mario ao piano, Cyro no centro regendo os três. Não fluiu, mas a dupla insistiu no trabalho, que resultou no lançamento, em 1965, do compacto simples com Jequibau e Esperando o Sol.
Mario era também o apresentador do programa Improviso, na Rádio Record. Uma tarde apareceu no estúdio um violonista pequeno e sorridente. Era Macumbinha, de 15 anos, dois a mais que a baterista que o acompanhava, Elizabeth Del Grande. Morava em São Miguel Paulista, e ao término do programa aproveitou o carro de Mario para percorrer uma parte do percurso de volta para casa.
O pianista fez com a voz um tonqui-toton-ticticton, e repetiu algumas vezes a onomatopeia. “Você é capaz de fazer isso em dois acordes?”. Claro que sim. Ao tocar na emissora, Macumbinha, talentoso e raçudo, já dera mostra da sua capacidade.
O garoto, com procuração assinada pelo pai, foi morar na casa de Albanese, na Rua Atlântica, Jardim América. Ao lado de outro violonista, Silvio Santisteban, e do baterista Zé Eduardo Nazario, transformou-se em destacado intérprete e divulgador do jequibau em escolas e programas de rádio e televisão. Foi fundamental, aliás, a participação de Zé Eduardo, ao transformar em 10/4 a batida originalmente escrita em cinco tempos.
O novo ritmo já era então anunciado em muros por cartazes lambe-lambe vistos pelo produtor norte-americano Sunny Skylar ao desembarcar em São Paulo
- Você tem mais músicas? - Skylar quis saber.
- Tenho - disse Albanese.
Não era verdade. O pianista correu ao encontro de Cyro para começar a primeira de uma série de 50 composições, dez das quais, somadas às duas do compacto simples, foram lançadas em Jequibau na Broadway.
Ganhou asas, aquele tonqui-toton-ticticton.
Genial!
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