Foi
em benefício da família de Mané Careca, trompetista acometido por um AVC, que o
pianista Roberto Farath organizou a Noite
de Gala da Música em São José do Rio Preto. Era 1972.
José
Ferreira Godinho Filho, o Casé, não conhecia Careca, mas logo se prontificou a
participar do show no Automóvel Clube, marcado para 22 de novembro, dia de
Santa Cecília, padroeira dos músicos.
O
saxofonista estava em Rio Preto, interior de São Paulo, para uma
temporada de bailes com o conjunto de Renato Perez.
A
seu respeito misturavam-se histórias sobre as maravilhas extraídas do sax alto
e um comportamento desconcertante – a repulsa à vaidade e seus inúteis serpenteios,
a conversa toda mansa roçada por súbitas tiradas filosóficas, o silêncio em
repouso num copo de martíni, as horas à toa na praça central em companhia de
cães sem dono.
Noite
do show. Em cena, músicos arregimentados na região - a
cozinha, quatro trombones, cinco saxofones, quatro pistons.
“Ele
é um dos maiores do mundo, e é modesto à beça”, diz Farath ao microfone, antes
de apresentar Casé, autor do arranjo e do solo que virão.
Um
gravador de rolo é acionado e registra Harlem Nocturne, a balada triste que o saxofonista tocará
enquanto viver. Até 30 de novembro de 1978, quando seu corpo, coberto por
marcas de agressão, for encontrado no chão de um hotel da Boca do Lixo, em São
Paulo.