À frente de um quarteto, o trompetista Mujica destrincha por
duas horas um repertório de marchas, frevos e sambas, seguido na calçada da
Avenida Brigadeiro Luís Antônio por alunos de uma escola infantil.
Concluído o trabalho, embarca no metrô rumo a Itaquera, e
de lá segue para casa, em São Miguel Paulista. No Carnaval, vai garantir a trilha sonora do Bloco Bastardo em desfile pelo bairro de Pinheiros. Nascido na Bahia em 1942, começou na infância a tocar em bailes. Profissionalizou-se, saiu por aí e parou em São Paulo.Tempos difíceis.
No começo da
década de 70, policiais o cercaram na Praça da República, de onde
pretendia chegar ao local de trabalho – a boate Michel, na Boca do Luxo.
Para se identificar, apresentou a carteira da Ordem dos Músicos. Não foi uma boa ideia. Ao ser jogado num camburão, soube que, para evitar constrangimentos como aquele, de tão grosso calibre, era preciso ter
um outro documento, expedido pelo Departamento de Censura, na Polícia Federal. Coisas da ditadura.
O trompetista tratou de cumprir a exigência. Apresentou-se
com a papelada: Dermival Souza de Oliveira, nascido na Chapada Diamantina, município de Jacobina etc e tal.
Faltava o nome artístico.
- É Mujica - ele
disse, lembrando-se da sugestão dada pelo cantor Eduardo Araújo de adotar um apelido que, mesmo vagamente, o associasse a Mogi das Cruzes, onde então morava.
Nas orquestras de Sylvio Mazzucca e Clovis Ely, no grupo Os
Brazões, no Avenida Danças, no Cartola, no Clube Homs, em todos os lugares Dermival passou a ser Mujica.
Mujica, o trompetista que, após a Quarta-Feira de Cinzas, desfeitos sonhos e fantasias do Carnaval, será tudo o que lhe soar como dever de ofício.
Mujica, o trompetista que, após a Quarta-Feira de Cinzas, desfeitos sonhos e fantasias do Carnaval, será tudo o que lhe soar como dever de ofício.
Dê-lhe um sombrero e ele será mariachi.
Mujica, à esquerda |