Por FERNANDO LICHTI BARROS
A missa de sétimo dia da morte de Johnny Alf teve o jeito dos oitenta
anos de vida de Johnny Alf.
Março de 2010. Enquanto no começo da noite a cidade ruge lá fora, no interior da
igreja da Consolação, em São Paulo, um ritual modesto celebrava a partida do pianista, cantor e compositor.
Missa parecida com ele: tranquila. Nenhum estardalhaço, nenhuma presença daquelas que costumam parar o trânsito, fazer espocar flashes,
levar tietes ao delírio. Pouca nota, como diriam os colegas ali
presentes.
Havia partido o "Músico Simples" poeticamente retratado por Gilberto Gil na canção que Johnny gravou no LP "Nós", em 1974. O mesmo Johnny que na década de 50 impulsionou a música brasileira com "Rapaz de Bem" e, abraçado ao desprendimento, seguiu em frente apresentando-se em
boates, em bares, em pequenos shows. Ele gostava da noite.
Autor, entre tantas outras belezas, de "Eu e a brisa", "Ilusão à toda" e "Céu e mar", Johnny morreu sem grana. Durante a missa na Consolação, o padre falou sobre injustiças cometidas por um mercado apenas
voraz.
Diante do altar, um rapaz de longa cabeleira rasta abriu os braços em cruz, rezou o Pai Nosso e foi embora, em passos lentos e silenciosos.