Por FERNANDO LICHTI BARROS
Sem festejos, o trombonista Bil completou 92 anos. Ele não para. Dia desses apresentou-se com a Big Band Senior na Virada Cultural.
Severino
Gomes da Silva era Biu na cidade onde nasceu - Macaparana, Pernambuco.
Tornou-se Bil na década de 50, em São Paulo, tantas vezes após o maestro Osmar
Milani assim chamá-lo, com o L bem pronunciado.
Antes
de ingressar na orquestra de Milani e liderar, a partir dos anos 60, o naipe de
trombones mais requisitado pelos estúdios de São Paulo, Bil foi aprendiz de
sapateiro, lavou cavalos, tocou em coreto, em procissão, em cabaré, em circo, rádio
e salões de baile, em diferentes lugares do Nordeste.
Agora,
lá vai ele caminhando mansamente pelas ruas do Bixiga. É o mesmo Bil que na década de 1940
foi até o porto de Cabedelo, na Paraíba, para se despedir do amigo Moacir Santos, que embarcaria no vapor Rodrigues
Alves Paraíba rumo ao Rio de Janeiro. É o camarada que tempos depois deu dicas de teoria a
um colega chamado Hermeto Pascoal.
É
o mesmo trombonista que tocou na gravação de “Vou Gargalhar”, com Jackson do Pandeiro na
Rádio Jornal do Comércio, em 1954, e treze anos depois em “Tropicália”, com
Caetano Veloso.
Bil
mantém a rotina frugal dos homens sábios. Mês passado, no dia do aniversário, cortou
o cabelo e em seguida, na feira da Rua Santo Amaro, em São Paulo, comprou banana, abacaxi, mamão e laranja lima. Em casa, almoçou frango
com polenta comprado perto do Teatro Oficina.
À
tarde foi de ônibus às proximidades da Praça da Árvore. Entrou num bar,
tomou café e seguiu até a casa de repouso onde hoje vive a mulher amada, Luzanira, acometida pela doença de Alzheimer.
Em
92 anos, Bil não acumulou nada. Não tem fotos nem gravações, das
centenas que fez com artistas de renome. Sente-se feliz assim.
Bil
é um fenômeno.
Jackson do Pandeiro - 02 Vou Gargalhar (Samba) 78 RPM - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=IsGas34Frrs
Obrigado por mais essa história, Fernando. É a crônica da música... Já lhe disse isso.
ResponderExcluir