Asa Branca uma, duas, dez, vinte vezes. Pode pedir que Nivaldo toca, não se queixa e nem fica bravo. “Se braveza valesse, Lampião tinha ficado rico”, diz ele.
O baiano de
Inhambupe acorda bem cedo em São Mateus, na zona leste de São Paulo, pega a
sanfona Hohner preta, vai para o ponto de ônibus e segue ao encontro dos
parceiros Zé Vieira e Daniel, cearenses do Cariri.
No Largo da Batata, em São Miguel, Mauá, numa praça
qualquer, por volta das dez da manhã eles cobrem a cabeça com chapéu de
vaqueiro e se transformam no Trio Beija-Flor Nordestino.
Acompanhada por triângulo e zabumba, a sanfona chora durante
cinco ou seis horas, a não ser que uma chuva encurte o espetáculo. Dá-lhe baião,
dá-lhe xaxado, samba, vá pedindo que eles atendem. Só não venha com o tal do funk.
“Isso é música sem origem”, fala Nivaldo, de 70 anos.
Um ano mais moço que
o ex-prensista Zé Vieira e três mais velho que o ex-ajudante geral Daniel, seus parceiros, ele
trabalhou na construção civil até se aposentar. O salário liberado pelo INSS é tão esquálido, que Nivaldo recorre a um gesto - aperta o indicador contra o polegar da mão
direita – para traduzir o valor da merreca.
Mas a sanfona, companheira desde a infância, não lhe falta
numa hora dessas. Com Daniel e Zé Vieira, recolhe da caixa de papelão deixada
na calçada até R$ 240 por dia. Às vezes a arrecadação
aumenta. E, se a sorte estiver mesmo de plantão, pode se aproximar uma boa alma e perguntar:
- Toca uma de Dominguinhos?
- Toca uma de Dominguinhos?
Ao redor do som é isso.
ResponderExcluirMaravilhoso!
ResponderExcluirEita !!!!
ResponderExcluirMaravilhoso!
ResponderExcluirQuero o telefone
ResponderExcluirquerido Fernando, sempre atento ao que há de melhor no pop das ruas paulistanas. Como sempre, uma delícia ler suas crônicas. Salve Asa Branca!
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