Romeu, agora septuagenário, entre Vinicius e Johnny |
O porteiro Gunga Din estava de bom humor. Deixou o guardador de carros atravessar os nove ou dez metros de corredor para espiar o que se passava lá dentro.
O menino
tinha 15 anos; chamava-se Romeu Venancio. Ele se encostou à parede e finalmente viu o interior da boate Cave, na Rua da Consolação.
Casa cheia, esfumaçada, um templo frequentado
por boêmios, artistas da bossa nova, do iê-iê-iê, gente da televisão, gente
endinheirada ou nem tanto, tiras, jornalistas e um representante do Exército da
Salvação, entre outras criaturas da noite.
Com o copo
na mão, Vinicius de Moraes sai de uma das mesas, caminha até o pianista – era uma
canja de Johnny Alf – e em voz baixa canta “Formosa”. Johnny
ouve e logo estende um acolchoado de belos acordes para
o samba, ainda inédito em disco naquele ano de 1965.
Romeu deixou a boate, esperou pelos trocados dos donos dos carros, e já amanhecia quando foi para a estação do
Brás. Daquela vez ele não passaria o dia perambulando pelo Centro, não
cochilaria por algumas horas sob o palco da Bon Soir, na Praça Roosevelt, nem
tentaria uma vaga de figurante na TV Excelsior.
Queria reter
na memória a cena, a música, o silêncio incomum feito pela plateia durante o presente oferecido por Vinicius e Johnny.
Tomou o trem
de volta para casa, um barracão em Guaianases. Da janela avistou os campos de
futebol da Zona Leste, e não lhe saia da cabeça aquela canção, a doce lembrança
de que carinho não é ruim.
Bela história Fernando. Muito bom.
ResponderExcluirQue linda historia!!!!.
ResponderExcluirQue linda historia!!!!.
ResponderExcluirQue delícia e que presente bonito essa história, Fernando! Obrigada!
ResponderExcluirQue beleza de história! Uma bênção de sensibilidade ‘
ResponderExcluirQue legal eternizar uma história do nosso querido Romeu Venâncio. Obrigada Fernandinho!
ResponderExcluirValeu, Fernandinho.
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