sexta-feira, 19 de maio de 2017

Bil é um fenômeno




Por FERNANDO LICHTI BARROS

Sem festejos, o trombonista Bil completou 92 anos. Ele não para. Dia desses apresentou-se com a Big Band Senior na Virada Cultural.

Severino Gomes da Silva era Biu na cidade onde nasceu - Macaparana, Pernambuco. Tornou-se Bil na década de 50, em São Paulo, tantas vezes após o maestro Osmar Milani assim chamá-lo, com o L bem pronunciado.

Antes de ingressar na orquestra de Milani e liderar, a partir dos anos 60, o naipe de trombones mais requisitado pelos estúdios de São Paulo, Bil foi aprendiz de sapateiro, lavou cavalos, tocou em coreto, em procissão, em cabaré, em circo, rádio e salões de baile, em diferentes lugares do Nordeste.

Agora, lá vai ele caminhando mansamente pelas ruas do Bixiga. É o mesmo Bil que na década de 1940 foi até o porto de Cabedelo, na Paraíba, para se despedir do amigo Moacir Santos, que embarcaria no vapor Rodrigues Alves Paraíba rumo ao Rio de Janeiro. É o camarada que tempos depois deu dicas de teoria a um colega chamado Hermeto Pascoal.

É o mesmo trombonista que tocou na gravação de “Vou Gargalhar”, com Jackson do Pandeiro na Rádio Jornal do Comércio, em 1954, e treze anos depois na de “Tropicália”, com Caetano Veloso.

Bil mantém a rotina frugal dos homens sábios. Mês passado, no dia do aniversário, cortou o cabelo e em seguida, na feira da Rua Santo Amaro, em São Paulo, comprou banana, abacaxi, mamão e laranja lima. Em casa, almoçou frango com polenta comprado perto do Teatro Oficina.

À tarde foi de ônibus às proximidades da Praça da Árvore. Entrou num bar, tomou café e seguiu até a casa de repouso onde hoje vive a mulher amada, Luzanira, acometida pela doença de Alzheimer.

Em 92 anos, Bil não acumulou nada. Não tem fotos nem gravações, das centenas que fez com artistas de renome. Sente-se feliz assim.

Bil é um fenômeno.

Jackson do Pandeiro - 02 Vou Gargalhar (Samba) 78 RPM - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=IsGas34Frrs







Um comentário:

  1. Obrigado por mais essa história, Fernando. É a crônica da música... Já lhe disse isso.

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