Por FERNANDO LICHTI BARROS
Seis vezes por semana, vestindo um terno impecável, Mario Edson senta-se ao piano. O bar é o Baretto, em São Paulo, 2017.
Seis vezes por semana, vestindo um terno impecável, Mario Edson senta-se ao piano. O bar é o Baretto, em São Paulo, 2017.
A disposição com que Mario dedilha o Steinway levou, uma vez, Chico Buarque, a perguntar “De onde você tira essa energia?”
- Do sereno - respondeu o pianista, já então bem passado dos 70.
- Do sereno - respondeu o pianista, já então bem passado dos 70.
Cinquenta e cinco anos de profissão lhe deram, além de
vigor, fina sensibilidade. Ele é capaz de fazer a noitada evoluir de acordo com
o clima, o humor, o estado de espírito da plateia.
São 23h30. Mário, dono de um repertório
quilométrico, toca Dindi. Daí para Summertime é um pulo. Aplausos entre
conversas animadas, e a temperatura sobe ainda mais. Por alguns compassos, Mario deixa o piano para tocar tamborim e apito em sambas de andamento acelerado. Já
tem gente agitando o corpo em coreografia moldada ao ambiente projetado para acomodar 60 pessoas.
De repente, mudam os grupos ocupantes de quatro
ou cinco mesas. Outra vez a música se acalma – pode ser, Tu mi delírio, bolero matador do cubano Cesar Portillo de la Luz
interpretado por Anna Setton, uma das vozes do Baretto.
Outros músicos experientes revezam-se noite adentro - o baterista Mutinho, autor de canções
compostas com Toquinho e Vinícius de Moraes; o pianista Moacyr Zwarg, representante de uma família de grandes músicos; o saxofonista Faninho, antigo parceiro de Mario Edson, e Wilson Gomes, o contrabaixista que
se vestia de Drácula para acompanhar Elis em Falso Brilhante. Nada fracos, os rapazes. Já foram ouvidos pelo
pessoal do U-2, por John Pizzarelli e Mick Jagger.
Há quatro ou cinco anos,
Sharon Stone não resistiu ao balanço da bossa: levantou-se da poltrona e foi fazer selfie com Mario Edson.
São 2h30. Quando tudo indica que a última conta será fechada, chega ao
Baretto um grupo entusiasmado. É prontamente atendido ao manifestar o desejo de
ouvir Piazzolla. Piano, sax, baixo e bateria saem com Balada para um loco. Aplausos. Começa
outra rodada de jazz, bossa-nova, bolero, I
love Paris, Garota de Ipanema, Contigo en la distancia.
Mario Edson chama de “dosagem” a mistura de
gêneros administrada em função do comportamento do público. Do alto da experiência iniciada em 1962, quando foi contratado pelo Can-Can, um inferninho
da avenida Nove de Julho, ele segreda: “Tudo cabe na noite”.
Parece simples, mas é bom lembrar: “Ela tem os
seus mistérios”.
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