quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Lito vai à luta

 Por FERNANDO LICHTI BARROS

Foto: Fernando L. Barros

No final da tarde, um táxi para na avenida Paulista, perto do Parque Trianon, e nele embarca um senhor elegantemente trajado, que será conduzido até à Rua Avanhandava, a dois quilômetro dali. Em dez ou quinze minutos, o passageiro estará diante do restaurante Walter Mancini. Aguarda-o um contrabaixo acústico, cujas cordas ele fará roncar a partir das 19h. 

Acompanhamento é a arte de Lito Robledo - esse é o nome do distinto cavalheiro. Não pense que é fácil: acompanhar requer dar à música importância maior do que ao ego, exige praticar o equilíbrio entre sobriedade e expressão. Lito dedica-se à especialidade desde 1969. Foi quando começou a tocar com o pai, Robledo, pianista argentino radicado em São Paulo, dono de grande prestígio, conhecido pela alta exigência nas formulações harmônicas. 

Os ensinamentos do pai, a noite, o rádio, discos, o trabalho com Johnny Alf, Wilson Simonal, Billy Blanco, Dominguinhos,Trio Mocotó, Elza Soares, Doris Monteiro, isso tudo resultou em cancha. A mesma que permite a Lito fazer do baixo a liga necessária entre os demais instrumentos e, numa espécie de mixagem feita sem truques, tocar em perfeita sintonia com os  parceiros com quem divide o palco.

Em 56 anos de carreira e 71 de vida, Lito viu Lucio Alves jogar futebol entre os shows do Projeto Pixinguinha, tomou banho de pipoca com Johnny Alf num terreiro perto de Diadema antes de uma turnê nunca realizada com Sarah Vaugh, e, com o pianista Moacyr Peixoto, não viu a cor do dinheiro depois de ter tocado numa festa promovida em Brasilia na mansão de um sujeito que prometia moralizar o serviço público em implacável caça aos marajás.

Histórias, muitas histórias, mas não dá tempo de contá-las agora. São 18h. Está na hora de Lito entrar num táxi e ir à luta.




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