Por FERNANDO LICHTI BARROS
O acordeonista Luiz Machado Pereira ficava atento. Se já nos primeiros gorjeios alguns cantores viajassem para longe, muito longe, a ele e aos demais integrantes do regional da Rádio Cultura restava sair em perseguição ao tom voador. Luiz, iniciando-se na profissão em 1956, aproveitava a oportunidade para exercitar o ouvido harmônico.
O acordeonista Luiz Machado Pereira ficava atento. Se já nos primeiros gorjeios alguns cantores viajassem para longe, muito longe, a ele e aos demais integrantes do regional da Rádio Cultura restava sair em perseguição ao tom voador. Luiz, iniciando-se na profissão em 1956, aproveitava a oportunidade para exercitar o ouvido harmônico.
Depois de migrar para a Rádio
Bandeirantes, ele aportou na Tupi com o Regional do Siles. Foi o
contrabaixista Newton Siqueira quem lhe sugeriu adotar Loy como sobrenome
artístico.
Em 59, contratado pela boate Cave,
Luiz Loy esperava o patrão ir embora para transgredir uma norma da casa - a que proibia as
canjas. Um cantor que começava a habitar as
paradas de sucesso e andava aparecendo por lá era então convidado a subir ao
palco. A farra se estendia até as quatro da manhã. João Gilberto era o nome do
rapaz.
No ano seguinte, cobrindo ao
acordeom as folgas do pianista Robledo na boate Chicote, Loy se viu diante de
uma enrascada: assumir o piano enquanto o titular estivesse em excursão pela
Europa.
Algo inseguro, ele olhou para aquelas
88 teclas e respirou fundo. Usou toda a mão direita para montar os primeiros
acordes, enquanto com a esquerda arriscou um dedo, depois dois, três. Naquele
instante nasceu o pianista intuitivo, nunca preso à exibição de grandes solos,
sempre dedicado à criação de harmonias e arranjos para sobretudo valorizar o
conjunto.
Para fazer parte do grupo da
Chicote, por indicação de Hélcio Milito, do Tamba Trio, trouxe do Rio um rapaz
de 17 anos. Chamava-se J. T. Meirelles, o saxofonista que na década seguinte
produziria um tremor ao gravar, à frente dos Copa 5, o LP “Samba Esquema Novo”,
de Jorge Ben.
Loy trabalhava no Captain´s Bar em
65 com Bandeira, contrabaixista, e Zinho, baterista. A TV Record levou o trio
para gravar o programa Bossaudade, comandado por Elizeth Cardoso e Ciro
Monteiro. Por sua conta e risco, Loy apareceu na emissora com mais dois
músicos, o trompetista Papudinho e o saxofonista Mazola.
Os cinco fizeram um sucesso tão
grande que imediatamente foram convocados a tocar n´O Fino da Bossa, com Elis
Regina e Jair Rodrigues, e nos dias seguintes em outros programas da Record –
Show em Simonal, Jovem Guarda, Astros do Disco e Chico Anysio Show.
O quinteto chegou a gravar 33
programas num único mês. Mas foi com Elis e Jair que, passeando entre
o sambalanço e o samba-jazz, chegou à sintonia perfeita, revelada, por exemplo, nas
gravações feitas ao vivo de “Tristeza e “Vem Balançar”.
Nessa mesma fase, o produtor Julio
Nagib pediu ao quinteto um desconto no preço então cobrado em estúdio para
acompanhar um compositor carioca radicado em São Paulo. Tímido, inseguro ao
violão que entregou ao amigo Toquinho, Chico Buarque de Hollanda fez com os
músicos seu disco de estreia, um compacto simples contendo “Olê, Olá” e “Meu
refrão”.
A parceria foi novamente celebrada
dois anos depois. Na contracapa do LP “Luiz Loy Quinteto Interpreta Chico
Buarque de Hollanda”, o compositor lembra o fato de a educação musical no
Brasil não passar de “vaga hipótese”, o que torna o LP “comercialmente
uma experiência bastante ousada”.
- No teatro, na televisão, por aí,
desde a formação deste quinteto temos sambado juntos. Sua musicalidade me
espanta – continua Chico. E conclui: “A Zinho, Bandeira, Mazzola, Papudinho e
Loy só me resta agradecer de todo o meu violão.”
CHICO BUARQUE MEU REFRÃO - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=8y642sS_ctY
Balançar - Elis Regina e Quinteto de Luiz Loy - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=9ExuycknSaU
Belíssima homenagem Fernando Barros. Seu conhecimento e suas histórias maravilhosas pinçadas do seu tino jornalístico, somente acrescem a grande História da nossa MPB. Luiz Loy foi uma lenda na nossa música e no nascimento da TV Brasileira, com seus musicais inesquecíveis. Obrigada pelo texto!
ResponderExcluirSó para registrar, ainda uma pré adolescente quase furei o compacto simples de Chico Buarque. Amava o moço Chico que iniciava carreira e adorava o seu acompanhamento. Fina flor ainda botão. Muito lindo! <3
ResponderExcluirUma pena ele ter nos deixado... mas que grande músico e que grande história, Fernando Barros!
ResponderExcluirÉ, Fernando Barros e, pertence a "você" a idéia do Quinteto "recriado"...
ResponderExcluirmuito obrigada!Mara Loy
Excelente texto Fernando. Historias bonitas de nossa MPB vista pelo lado dos músicos. Maravilha.
ResponderExcluir