Por Fernando Lichti Barros
O primeiro instrumento foi uma sanfona de dois baixos, depois trocada por uma de oito.
Vivia em Lagoa da Canoa, nas Alagoas. De dia, na roça, cuidava do gado; em casa, no fim da tarde, fazia música. Num forró em Palmeira dos Índios viu, pela primeira vez, um fole de 120 baixos. Pelejou, ganhou do pai um parecido, passou a animar arrasta-pés.
Certa noite, a cada xote, a cada baião, quanto mais gente rodeava o acordeonista, mais ele tinha olhos para uma das moças. Cupido encarregou-se do resto. Dali a pouco, enquanto um boi era assado no quintal, na sala Pascoal José da Costa e Divina Eulália Oliveira prometiam diante de um padre amar-se reciprocamente, na alegria e na tristeza.
O casal teve onze filhos. Dois se engraçaram com a sanfona. Pascoal achou fácil ensiná-los: era só deixar os meninos voejarem nas asas da intuição. Não demorou para eles atrairem ouvidos e olhares nas imediações.
Numa ocasião, deixaram maravilhado um rico fazendeiro do Ceará. Investido de um poder que imaginava sem limites, o homem se aproximou de Pascoal. Cheio de si, apontou em direção à dupla prodigiosa.
O mais velho chamava-se Zé Neto, mas era o
menorzinho que o coronel queria. Eu compro, ele disse. Nem por todo o dinheiro
do mundo, reagiu o pai das crianças.
Bravíssimo, seu Pascoal. Hermeto não se vende.
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Informações contidas em reportagem de Fernando Lichti Barros, publicada no Diário da Noite, em 21/11/1975
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