POR FERNANDO LICHTI BARROS
Um tango, um
choro, um fox.
Soa no
bairro um trompete na tarde incerta. A sonoridade é corajosa, é franca.
O músico veste o uniforme com que se apresentava no Circo Spacial.
Paulo Lima de Aguilar, gaúcho de Pelotas, tem 67 anos. Na Escola Municipal de Música de São Paulo mergulhou no método, na disciplina do erudito, e, com os colegas do Ponto na Praça da Sé, aprendeu a malandragem, a bossa de fazer baile sem ensaio.
Tocou nas orquestras de Ely e de Kojak. Conheceu bambas do sopro – Lelé, Buda, Batatão, Mazinho. Descobriu os segredos de um segundo instrumento, o sax; animou noites no Club Homs e no Cartola; com o circo foi à Arábia Saudita, rodou o Brasil.
De algum tempo para cá, é verdade, a agenda não andava grande coisa. Devia ser uma daquelas nuvens que vez por outra surgem acima de quem exerce a profissão, pensou o Aguilar. “Você olha pro céu e vê tudo cinzento. No outro dia muda, o Sol aparece, clareia”.
Vem a pandemia. Tudo cinza. Aguilar, então, faz da calçada o palco.
Tarde dessas o trompetista tocava
nos Jardins. Um homem pediu Garota de
Ipanema. Gostou do que ouviu e estendeu uma nota de cem.
Quando é
assim ele volta satisfeito para casa, em Parada de Taipas.
No dia
seguinte, pega o ônibus e sai de novo em busca do Sol.
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