Norma: show com o Zimbo cancelado na Oásis |
Por FERNANDO LICHTI BARROS
Enquanto o país é arremessado em direção a um túnel de horrores, poucos músicos comparecem aos seus locais de trabalho na noite chuvosa de 31 de março de 1964.
Uma diminuta resistência boêmia bate ponto nas boates e inferninhos de São Paulo.
Frustra-se quem vai à Oásis, na Rua Sete de Abril: está cancelado o show de Norma Benguell. Duas semanas atrás, abrindo a temporada, ela surgiu, lindíssima, dentro de um vestido assinado por Dener. Fatal, cantou Samba de uma nota só em italiano, com o anteparo do recém-criado Zimbo Trio.
Fosse numa outra terça-feira, a música desceria no Djalma´s pelas mãos de Rosinha de Valença e Walter Wanderley, e no Juão Sebastião Bar pela voz bossa nova de Telma, No La Vie em Rose, repousaria em serenata com Nilo Chagas, ex-integrante do Trio de Ouro.
Hoje, porém, nem os melhores acordes, nem as mais inspiradas melodias, nada teria garantido o movimento noturno. Em busca de informações, "todo mundo" preferiu ficar em casa, "de ouvido colado no rádio", segundo a nota que a Folha de S. Paulo publica dois dias depois.
Não faz mal: para o Dia de Tiradentes, no mês que vem, anuncia-se o show de um quarteto na rua Major Sertório, 676. Papudinho, Cido Bianchi, Azeitona e Zinho tocarão trompete, piano, baixo e bateria na abertura do Ela Cravo e Canela.
Há música no ar.
Telma também cantava no Baiúca da Praça Roosevelt. Que fim levou a meiga Telma? Lembro também desse quarteto: Papudinho, Cido Bianchi, Azeitona (que me confessou ser apaixonado pela Alaíde Costa) e Zinho. Suas crônicas me trazem boas recordações e me enchem de saudade, Fernando Barros. Nada a ver com a revolução de 64.
ResponderExcluirSensacional essa história em pleno 31 de março de 2021.
ResponderExcluirCaprichou, ein, Fernando...gostei do tour pelos botecos de São Paulo pré-"Redentora".
ResponderExcluirMuito legal, como sempre. Quisera nossa memória musical contasse com cem Fernandos.
ResponderExcluirBelo registro!
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