Por FERNANDO LICHTI BARROS
A campainha
do apartamento estava quebrada. Pelo olho-mágico,
Wilson Gomes avistou quem batia à porta - o baterista Nenê e o guitarrista
Natan Marques. Os dois pareciam ter pressa.
“Vamos, calce
os sapatos”, eles disseram. Não havia tempo para conversa; apenas para
uma informação seca: os três iriam ensaiar com Elis Regina.
Wilson apanhou
o baixo Snake utilizado na véspera para acompanhar Pery Ribeiro na Catedral do
Samba, e da Rua das Palmeiras seguiu com os amigos até a Escola de Dança de São Paulo, na Praça Ramos.
Lá estavam, muito
sérios, Elis, Cesar Mariano, o coreógrafo JC Violla e a diretora Miriam Muniz. Feita uma rápida apresentação -“esse aqui é o Wilson” -, logo teve início o trabalho. Nada de música: ao invés de
tocar, todos passaram a fazer alongamentos, sob a orientação de Violla.
O show em
preparação levaria o nome de Falso Brilhante, com estreia marcada para o final
daquele ano,1975. Quando, enfim, os músicos começaram a tocar canções já
gravadas por Elis – e esse foi o teste a que Wilson foi submetido -, ele demonstrou segurança. Conhecia o repertório da cantora.
Cesar Mariano
sorriu, sinal de que o contrabaixista estava admitido. Então, Miriam Muniz se aproximou e avisou: os músicos seriam também atores,
- Você vai ser o Drácula - ela disse a Wilson.
Não havia nada que vinculasse as atividades noturnas atribuídas ao conde da Transilvânia à trajetória profissional do contrabaixista, iniciada em Fortaleza, sua cidade, em rodas de choro e nos bailes animados pelos conjuntos de Ivanildo e de Roberto Mota.
Mas uma chance como aquela, um presente da vida, não deveria ser desperdiçada. E, de maquiagem e capa preta, surgiu Wilson no palco do Teatro Bandeirantes para fazer parte de um espetáculo comovente, inesquecível.